É o que queremos receber

Acho que o aniversário, acima de tudo, é aquele dia em especial da qual não temos mais a ansiosidade infantil de querer que chegue logo para recebermos um Godzilla que ruge (o meu atirava uma coisinha que deveria ser fogo e o do meu primo era quase duas vezes maior e rugia... ok, sem trauma de infância! Apesar do meu quebrar, acho que no segundo mês e o dele sobrevivia a quedas de escada) ou aqueles bolos que todo mundo olha e pensa que é muito gostoso, mas é incrivelmente enjoativo (creio que os fabricantes fazem isso para que os convidados não comam muito e depois o aniversariante tenha o que comer de madrugada) de tão doce.

A medida que vamos crescendo, o aniversário chega a ser algo com a qual comemoramos com os amigos indo em uma pizzaria (porque aniversariante não paga, mas tem que apresentar a identidade) ou ficando em casa comendo algo especial que pelo resto do ano você não irá comer, então é melhor aproveitar aquele nhoque com queijo mofado e aquela torta de bolachinha com pedaços ralados de chocolate branco e preto.

Os presentes não são mais tão importantes como eram antes. Talvez porque quando se completa dez anos e você não recebe mais os brinquedos que queria ou pelo menos algo muito supimpa - expressão que aqui quer dizer:"muito legal, cara" - e começa a ganhar cueca, camisas feias, meia e relógios. Qual criança de dez anos quer um relógio? Vai mostrar para os amigos por uma semana até começar a esquecer em casa e nunca mais usar. Esse choque traumático de nunca mais receber uma coisa muito legal que te deixa totalmente eufórico (como receber um creme para babear enquanto ainda nem cresceu os cavanhaques) faz com que esperemos receber coisas para o uso do dia-a-dia invés de receber algo que vamos realmente gostar. O necessário nem sempre é o que queremos receber.

Convidados normalmente são amigos quando criança e temos altas diversões com aquela galerinha pesada (eu disse que o bolo era muito doce) e quando crescemos é o seu vizinho que veio te dar camisinhas e comer bolo com refrigerante.

Para concluir, a medida que os anos vão passando, nossa visão de "aniversário" não mais é de dia de muita alegria com guloseimas bonitas e coloridas e sim, mais um passo até a morte (eu queria um Godzilla que rugisse!!!).